Até ao final do ano deverá haver uma decisão sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, se com, ou se sem acordo. As negociações ainda correm, mas devido à indecisão as empresas exportadoras encontram-se a reforçar os seus stocks no Reino Unido com medo de um Brexit sem acordo, criando filas de ambos os lados do Canal da Mancha.

De ambos os lados espera-se um acordo que evite que a legislação se reja pelas regras da Organização Mundial do Comércio, envolvendo tarifas alfandegárias e longos processos burocráticos.

Luís Castro Henriques, presidente do AICEP, comenta que o que há a fazer é “estar pronto para o melhor e preparar-se para o pior”, mas essa preparação já dura desde há alguns meses, ou mesmo anos, em alguns casos.

Ao Dinheiro Vivo, Mário Jorge Machado, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) revela que a recomendação que deixou aos associados foi que tentassem antecipar as entregas do primeiro trimestre do ano que se aproxima, e espera “que as coisas se resolvam porque as empresas fazem investimentos e a grande preocupação é com o que vai acontecer depois no dia 1 de Janeiro”.

A The Fladgate Partnership, que detém marcas de vinho do Porto como Taylor’s ou Croft, já se encontra a reforçar os seus stocks no mercado desde há dois anos, segundo revela à fonte Ana Margarida Morgado, relações públicas da empresa. Mas apesar das incertezas do ano, revela que as vendas têm “tido um bom comportamento, beneficiando de um consumo mais em casa”.

Paulo Gonçalves, marketing communications manager da Associação Portuguesa do Calçado (APPICAPS), conta ao Dinheiro Vivo que “a expectativa é que não existam alterações significativas”.

Como forma de dar suporte às empresas exportadoras, a Associação Empresarial de Portugal (AEP) constituiu um gabinete de apoio para as ajudar em caso de acabar por não haver acordo. “Teremos uma equipa a trabalhar exclusivamente na análise de todas as questões relacionadas com esta possibilidade”, revela o presidente da AEP, Luís Miguel Ribeiro, à fonte, sendo esta composta sobretudo por juristas e elementos do departamento de estudos de estratégia, de forma a poderem ajudar as empresas com questões relacionadas com “mobilidade de pessoas, mercadorias e todo o tipo de bens”.

O cenário visto nos últimos dias são um exemplo do que poderá acontecer caso o Brexit sem acordo ocorra, e Nuno Rangel, CEO da Rangel Logistics Solutions e presidente da Associação Portuguesa de Operadores Logísticos (APOL), comenta que “há mais de uma semana que existe uma fila de camiões em Dover para se aproximarem da fronteira. É expectável que essa fila aumente do lado de Inglaterra e o mesmo já acontece em França, Calais”, sublinhando que “cerca de 80% do tráfego rodoviário entre a UE e o Reino Unido passa nestas fronteiras”.

Grandes preocupações logísticas sobressaem, relacionadas com a movimentação de mercadorias com um prazo de validade muito curto, em destaque para os frescos. Na necessidade de cumprir todo o processo burocrático aduaneiro, como para os Estados Unidos da América ou para a China, Nuno Rangel alerta que “as mercadorias vão ficar paradas nas fronteiras, tanto no RU como em França. Os armazéns vão ficar sobrelotados e os meios de transporte parados”.

O Reino Unido tem um peso considerável na economia portuguesa, sendo o quarto maior mercado para exportações directas, e também pela interligação no mercado único.

“Portugal tem uma exposição enorme ao Reino Unido, mas há outros parceiros europeus com uma exposição maior”, recorda o presidente da AICEP, Luís Castro Henriques. O responsável também destaca que poderá dar-se “uma disrupção mais alargada, sobretudo no centro da Europa, que está muito próxima do mercado inglês. A nós, afecta-nos no imediato em termos de cadeia logística e a seguir afecta-nos também no impacto económico. Temos uma exposição de mais de 70% ao mercado europeu”.

Luís Castro Henriques sublinha ainda que “quem já assinou contratos anteriores provavelmente não terá grande impacto, mas quem estiver a exportar e estiver à espera de receber em libras poderá ter um impacto relevante ao nível do câmbio”.